quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Revivendo emoções do 4º Prêmio Educar para a Igualdade Racial

Ai  de nós, educadores se deixarmos de sonhar sonhos possíveis (...)
Os projetos são aqueles ou aquelas que se molham de tal forma nas águas da cultura e da história do seu povo, que conhecem o seu aqui, o seu agora e, por isso, podem prever o amanhã que ele, mais do que adivinham, realizam.
(Paulo Freire)


Revivendo emoções do 4º Prêmio Educar para a Igualdade Racial
Sonhar sonhos possíveis, conhecer a nossa cultura e a história do nosso povo. Um povo  que mesmo escravizados em condições humilhantes, com muitos sofrimentos contribuíam com sua música, seus conhecimentos, sua cultura, sua língua, sua religião, mitos e histórias para a formação e produção do que veio a ser a sociedade brasileira.
Contar essa história que como diz LOPES (2001) nós professores somos na verdade contadores de histórias “Griots”, contamos a história da humanidade para nossos alunos, só que a história que nós contamos não é a história de um só povo. Temos a missão de contar a história de muitos povos, em tempos diferentes, e que também tiveram modos diferentes de viver.
Na implementação do Projeto “Heranças: Valores Civilizatórios afro-brasileiros, contamos, ouvimos e criamos várias histórias e fomos desafiados a lidar com a diversidade, perceber e enfrentar o preconceito presente nas nossas ações e omissões.
Aprendemos com a beleza da Menina Bonita do Laço de Fita de Ana Maria Machado a valorizar a negritude. A história de Bruno e a Galinha da Angola nos mostrou a força da tradição oral africana, retratada na atuação do ovo.
Conhecemos obras de Joel Rufino dos Santos como: O presente de Ossanha, Dudu Calunga e a Botija de Ouro, com elas discutimos cooperativismo, afetividade, religiosidade, circularidade, ancestralidade e nos sensibilizamos como as formas humilhantes e desumanas em que viviam as personagens. No caminho encontramos o livro Berimbau, de Raquel de Coelho e com ele, suas imagens e Pelas mãos de Léo estabelecemos um diálogo e um pouco mais de história e cultura dos africanos.
Tivemos como proposta esclarecer e divulgar os valores civilizatórios africanos, que poucos conhecem como legado do povo africano. Só conhecer não basta, há necessidade de compartilhar esses conhecimentos para que outros profissionais tenham possibilidade de repensar a questão curricular e implementar os objetivos previstos na Lei 10639/03.
Em 2008 tive a coragem de me inscrever no 4º Prêmio Educar para a Igualdade Racial, pelo seu papel de destaque entre as ações educacionais existentes no país, especialmente entre iniciativas que visam uma educação livre do racismo, preconceito e discriminações.
Ao ler a rede enviada pela Secretaria de Educação informando do Prêmio, tive dúvidas por querer colocar as experiências, o crescimento de um grupo escola que vinha aprofundando os seus conhecimentos e suas ações em relação á temática racial. Entrei em contato com a CEERT por e-mail e recebi por Jean Tadeu de Melo, textos detalhados sobre procedimentos do prêmio.
Deveria escolher uma das categorias, Professor de Educação Infantil ou Fundamental e não categoria Escola.
A categoria Professor tinha como objetivo mapear, apoiar e dar visibilidade às boas práticas escolares desenvolvidas por professores, reconhecendo a importância pedagógica destas práticas para formação de crianças desprovidas de preconceito e discriminações de toda natureza e preparadas para conviver de forma respeitosa com a diversidade cultural, regional e étnico-racial.
O objetivo da categoria Escola era incentivar e apoiar iniciativas institucionais, praticadas pela Gestão Escolar, que fortaleceram práticas pedagógicas desenvolvidas por professores. Desta forma, pretende-se encorajar e viabilizar as ações do estabelecimento de ensino que favoreçam a institucionalização destas boas práticas, contribuindo para implementação da LDB (artigo 26-A) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino de História e cultura afro-brasileira e africana, impulsionando  a democratização da política nacional de Educação.
Assim comecei a organização do registro seguindo o edital com o objetivo, justificativa e Planejamento, Desenvolvimento das atividades, motivação e participação, recursos utilizados .
Nesta etapa é importante destacar a participação do grupo escola e profissionais da Secretaria da Educação que apoiaram e estimularam para que o registro do Projeto fosse enviado.
Esse processo foi doloroso, angustiante e também gratificante, envolveu muitos sentimentos  (porque tive que informar ao grupo escola que iria inscrever no Prêmio na categoria professor e que a suplência, por exemplo, estaria de fora e que só poderia envolver uma única modalidade de ensino.
Doloroso porque registrar é difícil e como diz Madalena Freire “não é todo educador que tem apropriado seus desejos, seu fazer, eu pensamento na construção do consciente de sua prática e teoria.
O registro permite a sistematização do vivido, sonhado, construído. A retomada da prática de forma reflexiva, relembrando o que foi feito, registrando esse fazer, sabendo que outros irão ler e analisar dando uma devolutiva, nos coloca em conflito, envolvendo vários sentimentos como medo, medo de não se colocar e retratar de forma clara o que foi realizado.
Angústia por ter que relatar sozinho, porque concordando que o registro é história, memória, individual e coletivo eternizado na palavra grafada, não é fácil escrever e refletir sobre nossa ação de ensino como diz Madalena Freire. E lembrando Paulo Freire, o registro da reflexão e sua socialização em um grupo são “fundadores da consciência” e assim sendo, sem risco de nos enganarmos, são também instrumentos para construção de conhecimento.
Gratificante ao receber a informação de que a iniciativa estava classificada para a próxima etapa do Prêmio e que deveria enviar materiais complementares (fotos, cartazes, trabalhos, redações dos alunos) e resumo breve da experiência que seria submetido à equipe avaliadora.
Nessa etapa, deparei-me com um desafio maior. Além de ter que realizar o registro e resumo da experiência. Tive que acalmar o grupo escola, esclarecendo cada etapa do Prêmio e que isso não era garantia de ser a finalista (dizia isso com um pontinho de desejo em estar na final).
Imagine a alegria e satisfação ao receber o e-mail comunicando que o Projeto estava entre os finalistas e que deveria seguir alguns procedimentos. Participaria de um curso de formação com duração de dois dias, teria a oportunidade de estar com alguns especialistas de educação para as relações étnico-raciais.
Dias recheados de prazer, ansiedade e expectativas. Afinal, naqueles momentos pudemos conhecer, deslumbrar com experiências e profissionais que acreditam, desenvolvem reflexão, discussão explicando o que aconteceu e como se deu o desenvolver das experiências, as alegrias e os desafios sobre a temática racial em suas escolas.
Interessante que todos aguardamos o resultado sabendo que somos vencedores ao trabalhar essa temática. Não há palavra que traduz os sentimentos do momento do anúncio do resultado.
Não podemos deixar de sonhar, penetrar em nossa cultura, nossa e história e divulgar esse sonho e ser reconhecido. O Prêmio Educar para a Igualdade Racial impulsiona desenvolvimento, valorização e reconhecimento de nós educadores.


Bibliografia:
Caderno CEERT (Publicação 2006 – 3º Prêmio Educar para a Igualdade Racial)
CAVALLEIRO, Eliane. Do Silencio do Lar ao Silêncio Escolar. Racismo, Preconceito e Discriminação na Educação Infantil.  São Paulo; Contexto,2000.  
LOPES, Ana Lucia.   Ampliando o olhar: um estudo sobre a construção de identidade da criança negra mestiça frente à experiência escolar. 1997. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 1997.


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