sábado, 27 de novembro de 2010

Saiu no Portal Diadema

Projeto de escola de Diadema voltado à cultura afro é apresentado em série do C

Sexta-feira, 26 de Novembro de 2010


Um projeto contra a discriminação racial voltado à Educação Infantil, desenvolvido pela EM Mário Quintana, em Vila Nogueira, foi apresentado no Programa Nota 10, da série A Cor da Cultura, no Canal Futura, nesta terça e quarta-feira, dias 23 e 24 de novembro.
A experiência da escola, realizada desde 2006, foi escolhida pelo programa por trabalhar o respeito entre os alunos, utilizando para isso diferentes formas de linguagem e dinamizando a prática do ensino. A proposta resgata a autoestima das crianças negras e trabalha com o conhecimento da cultura afro para todas as crianças.
O projeto, originalmente denominado "Heranças e Valores Civilizatórios Afro- Brasileiros", foi vencedor da quarta edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, e se utiliza de recursos lúdicos para cumprir também o estabelecido pela lei federal nº 10.639/03, que determina a inclusão da temática étnico-racial no currículo escolar.
Através de atividades como contação de história, teatro, dança de capoeira, música, colagens, trança afro, pintura etc., o projeto envolve professores, alunos e familiares.
Exibida desde 1999, a série Nota 10 reúne programas com reportagens que enfocam experiências educacionais de sucesso, valorizando a contribuição da população negra para a sociedade brasileira. O programa que mostra o projeto da EM Mário Quintana será reapresentado no próximo sábado, dia 27, às 14h, no Canal Futura (canal 32 da NET, canal 8 da Sky e canal 24 da Via Embratel). Odete Machado
Veja também o programa acessando o link abaixo:




domingo, 21 de novembro de 2010

4° PRÊMIO EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL

(Raquel R. do Prado)
I - Objetivos:
Dar continuidade nas discussões envolvendo a questão racial, discutir valores e padrões impostos, destacar a África apresentando às heranças africanas com enfoque nos valores civilizatórios que muitos desconhecem como legado desse povo. Valores, presente na literatura e em muitas atividades na Educação Infantil como: roda de conversas, histórias, músicas, brincadeiras com o corpo, plantas, água e tudo que é vivo e nos traz prazer, movimentos e energia. O mais interessante foi constatar a atuação dos professores em relação ao tema, intervindo e buscando forma de melhorar a prática e as crianças e os pais se colocando com mais segurança, sem medo de falar sobre o assunto.
 
II- Justificativa e Planejamento
Em 2006, vivenciamos um processo rico de formação e parceria com o projeto "A Cor da Cultura" que foi acompanhado e subsidiado pela profª ms Kiusan de Oliveira, representando a secretaria de Educação. Incorporamos à temática na proposta da escola com o projeto: História e leitura Intervindo na nossa cultura.  Aprendemos a valorizar a negritude, perceber a força da oralidade, discutir afetividade, religiosidade, ancestralidade e sensibilizamos com a forma que viviam as personagens das histórias. Encontramos nesse processo, profissionais empenhados, buscando novos conhecimentos e também alguns resistentes não abertos ao diálogo. Em 2007, organizamos o projeto Herança: Valores Civilizatório "Afro-Brasileiro" para que essa Cultura seja reconhecida, divulgada, vivenciada e valorizada como legado do povo Africano.

III – Desenvolvimento das Atividades
Nós professores retomamos  discussão e reflexão sobre a questão de cunho racial enfatizando os valores civilizatórios, nos momentos coletivos por meio de projeção de vídeos, leitura de textos, dinâmicas e jogos.
Os pais participaram de 4 encontros, sendo 3 oficinas e 1 encontro para socialização  e apresentação dos trabalhos, envolvendo dinâmicas, com  musica , projeção do filmes "nas rota dos Orixás", seguida de discussões com palestras de representantes do movimento negro, permitindo assim, que se colocassem contando sua história pessoal. Houve oficinas para confecção de bonecas, instrumentos musicais, brinquedos e jogos, com objetivos de sensibilizá-los quanto à questão do preconceito e discriminação e integrá-los no projeto da escola.
Na sala cada professor adaptou estratégias que atendessem a sua faixa etária, construindo e adequando materiais como: confecções de bonecas que representassem os personagens das histórias lidas. Confecções de blocões: "A botija de Ouro", "A menina bonita do laço de fita" e "Berimbau".
O projeto foi desenvolvido com todas as 164  crianças da escola por meio de contação de história, contos, mitos, lendas e fábulas, e outros textos ou imagens que possibilitassem discussões, rodas de conversas e sempre instigando, valorizando os conhecimentos prévios das crianças em relação ao tema. Apresentamos músicas, poesias, fotos, reproduções de obras ("O Mestiço" de Candido Portinari. "A Negra" de Tarsila de Amaral, dentre outras), recortes de revista acompanhada de debates e produções de textos coletivos, tendo o professor como escriba, ilustrações das personagens das histórias, apresentações de teatro de fantoches, de bonecas, varetas e outros recursos como o próprio corpo. Cada sala determinou o seu produto final: apresentação teatral, ilustração de livros, DVD, painel, utilizamos o pátio da escola para fazer roda de leituras, roda de capoeira, brincadeiras de rodas cantada sempre enfatizando os valores civilizatórios, presentes nessas atividades. Fizemos atividades com argila, recorte e colagem, pintura destacando o cooperativismo, o comunitarismo, a energia vital, (axé). Houve apresentações das crianças coordenadas por outras professoras dos contos lido "A menina Bonita do Laço de Fita" e "Kiriku e a feiticeira" constatando no processo de apresentação, incorporação das falas, alegria e satisfação das crianças querendo ser as personagens das  histórias sem ter vergonha da sua cor, mas se orgulhando ao representa-las.
Para socializar o projeto organizamos um jornal mural que permitiu  apresentar as atividades de sala como poemas, textos para reflexão como "A mão da Limpeza" - Gilberto Gil,  "Sou negro" de Solano Trindade  , "As Borboletas" de Vinicius de Moraes, "Daltanismo" de Ulisses Távora, "Cores" de Emilly Macrimmor.
Em 2007, um outro jornal Mural que merece destaque é o que foi ilustrado com imagens das crianças e profissionais em atividades, o qual representava os valores civilizatórios que acredito, foi o destaque conceitual para o entendimento do grupo escola em relação aos valores que muitos não conseguiam enxergar em sua prática. HhhhHhHHHParalelamente ao trabalho feito em sala, assistimos na sala de vídeo fita do Kit "A cor da Cultura" e DVD's, com filmes e relatos que envolvessem questões referentes ao projeto. Seguida de roda de conversa, com discussões riquíssimas envolvendo o tema. Acreditando na importância da divulgação do projeto para que outros profissionais conheçam possibilidades trabalharem o tema em questão, foi organizado um DVD, com o título "Celebrando a Diversidade"  por meio das diferentes linguagens. O qual retratou uma parte do processo envolvendo leituras e outras linguagens.
Esse DVD foi apresentado na mostra Cultural da Escola e na Mostra de Artes da Cidade de Diadema. E fomos Apresentando parte do projeto em outros meios de comunicação como a revista "Educar e Transformar, A Proposta Curricular na rede municipal de Diadema e também no site"unidadenadiversidade".

IV – Motivação e Participação
Esse projeto atendeu não só as crianças, mas também os pais e outros professores.
A motivação  ocorreu  naturalmente por meio de seleção de muitos livros de origem africana que foi lido diariamente com diferentes recursos, Muitas vezes nós assistíamos o vídeo do kit a "Cor da Cultura" e comparávamos com outras histórias. Usamos muito o lúdico e rodas de conversas . As músicas e vídeos foram debatidos e muitas vezes ilustrados. Um dado interessante foi trabalhar com fotografias e bonecos negros. Eles ficaram radiantes se tocando , comparando as cores dos bonecos apalpando os cabelos, e olhando as fotos e se admirando.
Com os pais  foi por meio de dinâmica  nas reuniões envolvendo músicas e  textos de reflexão. Nas oficinas houve desabafo comovente retratando o sofrimento do preconceito vivido.
Com os professores, o trabalho foi feito mostrando a beleza da África trazendo, CD com seleção de música que enfoca o tema. Mostrando com a prática, convidando alguns para serem parceiros nas atividades. A maior alegria foi o Mural com fotos de atividades representando o projeto, consegui retratar todos os valores civilizatórios em ações do dia a dia. Hoje vejo nos adultos menos resistência em trabalhar o tema em questão e as crianças estão mais atentas e não se calam intervindo em situações preconceituosas.

V – Recursos Utilizados
    Papéis diversos, cola, canetinhas, giz de cera, livros,  vídeos, DVD's, CD's, aparelhos de som, argilas, sucatas, tintas, colas, meias, lãs, agulhas, linhas, filmes fotográficos, máquina fotográfica, filmadora e fitas, "Data show", materiais específicos para formação como: Educação Africanidade Brasil, livro do aluno, revista do professor (Abril, Junho 2003) Ciências Hoje das crianças (edição 168) Nova escola (edição nº 8 de 86 e novembro de 2005). Xerocópia de textos: Quilombos e Mocambus (Flavio Gomes), Religiosidade Afro-brasileira: A experiência do Candomblé (Denise Botelho), vídeo do kit Da Cor da Cultura.
Recursos humanos: Especialistas, representante da Comunidade Negra (palestrantes), coordenação e ATP. 

VI. AVALIAÇÃO
Ocorreu por meio da observação e registro envolvendo as atividades e as ações das envolvidas quanto à discriminação e os valores civilizatórios. Utilizamos também da auto-avaliação dos pais e professores.
Alcançamos os nossos objetivos quando as crianças se alegraram em ver seus rostos expostos representando os valores civilizatórios, quando possibilitamos que as crianças em círculo falassem, buscassem, seus desejos, medos, e sonhos.
A maior dificuldade foi no inicio do projeto com leitura, a falta de materiais livros que retratassem a cultura africana, isso foi superado com a produção de blocões e a busca em outras bibliotecas. E a resistência de alguns profissionais.
O trabalho com essa temática, mudou a forma de ver a educação, me fez escutar mais as crianças, atentar para as imagens de livros e outros materiais como também buscar formas de trabalhar coletivamente envolvendo outros espaços e profissionais, ampliou formas de divulgar os projetos, que foram divulgados em CD's site e artigo.
É necessário incorporar na proposta pedagógica e ter acompanhamento na execução das atividades, como também fornecer recursos financeiros e humanos.
Esse projeto não terminou e nem pode terminar ele só muda o enfoque. Porque os valores civilizatórios estão presentes na nossa cultura.




sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Aprenda sobre Máscaras

Uma máscara é um acessório utilizado para cobrir o rosto                                                                

Importante

Textos - Africa                                                                

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Mais que importantes: Mulheres

Mulheres Afrodescendentes                                                                

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Contos para todos os gostos

Contos                                                               

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sugestão de Atividade

Atividade: palavras africanas na Língua Portuguesa                                                                

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Convite

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ECA em quadrinhos

ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em QUadrinhos Turma Da Monica                                                                

Abertura oficial da 4ª Jornada Cidadã será dia 16, em Diadema


Por: Marina Bastos  (marina@abcdmaior.com.br)

Atividades se estendem durante a semana e terminam na Kizomba- Festa da Raça

Depois das atividades preliminares que começam neste sábado (06/11), a 4ª Jornada Cidadã terá início oficialmente no dia 16, com uma vasta programação cultural que vai até o dia 20 - Dia da Consciência Negra e tema da edição do evento desde ano.

 
Confira Programação:
Data: 16/11
Local: Centro Cultural Diadema – Teatro Clara Nunes
Rua Graciosa, 300 – Centro - Diadema
Horário: 19h
Abertura: Performance com o poeta popular Moreira de Acopiara;. Exibição de fotos e vídeo do Fórum Social do ABCDMRR; Ato de entrega do documento da Ecosol às autoridades presentes.
 
Eixo 2: Cultura e Educação
Palestras Temáticas:
Data: 17/11
Local: Auditório do Quarteirão de Saúde
Av. Antonio Piranga, 578 – Centro - Diadema
Horário: 19h
 
Tema 1: "Cultura e Educação para igualdade racial e de gênero"
Palestrante: Matilde Ribeiro - Assistente social, mestre em psicologia social , ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – governo federal (2003-2008). Atualmente é assessora no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e professora na Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS – São Caetano).
Resumo: A palestra abordará a importância de buscarmos, através de práticas pedagógicas e culturais, os instrumentos que nos possibilitem a construção de uma sociedade com mais igualdade de gênero e de raça.
 
Tema 2: "O movimento negro unificado (M.N.U) na Região: Conquistas e desafios"
Palestrante: Ketu Riahb – militante do M.N.U
Resumo: Com mais de duas décadas de militância junto ao M.N.U, o palestrante falará sobre a contribuição do movimento para a implantação de políticas públicas de cultura.
 
Tema 3: "Os Desafios do EJA - Educação de Jovens e Adultos"
Palestrante: Adriana Pereira, educadora e coordenadora do EJA em São Bernardo.
Contextualização: A Educação de Jovens e Adultos tem marcos políticos, filosóficos e legais que sustentam o direito a uma educação integral aos trabalhadores e trabalhadoras, porém são poucas as políticas públicas que ofertam essa modalidade com a legitimidade requerida.
Resumo: A palestra abordará a importância de políticas pedagógicas progressistas e libertárias como uma das estratégias para organização de uma sociedade menos desigual.
 
Eixo 3: Saúde com qualidade de vida e inclusão social
 Palestras temáticas:
Tema Geral: "Manifesto pela Humanização"
Data: 18/11
Horário: 14h às 18h
Local: Recad (Rede de Atenção a Criança e Adolescente)
Rua Oriente Monte, 201 – Jardim do Parque – Diadema
Participantes: equipe de especialistas que através do enfoque transdisciplinar conduzirão um diálogo promovendo e reforçando o questionamento sobre "o que é humanização".
Resumo: Uma exposição e análise das práticas entendidas como necessárias e que na sua implementação tornam-se apenas técnicas utilitárias atendendo o sistema normativo e desconsiderando o objetivo e objeto alvo, "o ser humano". Direitos Humanos Por um Novo Começo – Manifesto por uma Cultura de Paz e não violência, em busca da dignidade humana.
 
Eixo 4: Consciência Negra
Vídeo e debate:
Data: 19/11
Horário: 15h
Local: Fundação Florestan Fernandes
Rua Manuel da Nóbrega, 1.149 – Centro – Diadema
Exibição de vídeo-documentário "Navio Negreiro – Tragédia em São Paulo"
De: Tiago Fernandes
Debate: Diadema Cidade Negra
Debatedor: Prof. Dr. Henrique Cunha Júnior (Universidade Federal do Ceará)
 
Teatro:
Apresentação Teatral: Grupo Zumbierê
Horário: 19h
Local: Teatro Clara Nunes
Rua Graciosa, 300 - Centro – Diadema
 
FESTA DA 4ª JORNADA CIDADÃ NA KIZOMBA, A FESTA DA RAÇA:
Data: 20/11
Local: Praça da Moça – Diadema
Horário: a partir das 10h
 
Feira da Economia Solidária
Exposições:
. Sindicatos (Metalúrgicos, Construção Civil, Bancários, Sindsaúde, Químicos)
. Jornal ABCD MAIOR
. Unisol Brasil
. Poder Público
. Tenda de Livros
. Centro de Memória – GT Direitos Humanos
 
Atividades de lazer para as crianças:
Atividade 1: "Caravana do Lazer" (brinquedos infláveis, cama elástica e monitores para brincadeiras)
Organização: Secretaria de Esportes de Diadema
Atividade 2: "Clubinho da Guarda Municipal" – jogos, gincanas e brincadeiras. De uma forma lúdica se trabalha para instruir as crianças com brincadeiras interativas.
Organização: Secretaria de Defesa Social de Diadema.
 
Início da agenda cultural
Horário: a partir das 10h
. Violeiros de Mauá
. Banda Andar de Cima
. Grupo de Violeiros Raízes do Sertão
. Cortejo e Performance de Cultura Popular com Artistas de Diadema
. Companhia de Moçambique Família Feliciano
. Grupo Folclórico Congada do Parque São Bernardo
14h – "4 Caminhada de combate ao racismo"
Concentração na Praça Lauro Michels ás 13h30, com roda de Capoeira.
15h – Apresentação Teatral com a Cia do Nó
Breve relato: A Cia. do Nó tem sede em Santo André, e é um grupo de referência na Região que traz em seu repertório cerca de dez espetáculos, com textos próprios e de Luis Alberto de Abreu. Com o objetivo de colaborar para o pleno acesso da linguagem teatral à população, desenvolvendo projetos de pesquisa teatral, difusão de espetáculos e pensamentos e de formação artística e humana, a Cia. do Nó pesquisa um teatro que seja importante para todas as idades e que colabore na valorização das relações humanas.
Local: Teatro Clara Nunes
Rua Graciosa, 300 - Centro – Diadema
Espetáculo: A Dobra
Texto: Esdras Domingos e Renata Moré
Direção: Esdras Domingos
Com: Esdras Domingos e Rogério César
Sinopse: William é um empresário bem-sucedido de 40 anos, porém insatisfeito com o posto que ocupa na renomada empresa Dumble Meyére. Por ser metódico ao extremo, ao perder um pé de meia, fica paralisado. Inexplicavelmente, há uma dobra no tempo entre os anos de 1985 e 2005, que faz William se encontrar consigo mesmo 20 anos mais jovem.
15h – Chegada da 4ª Caminhada de combate ao racismo
15h30 – Apresentação do Batuque Arte- Dinho
Espetáculo Tambores do Brasil
16h30 – Apresentação de Grupo de Reggae
17h30 – Filhas de Jarina- Pai Márcio de Boçu Jara
Espetáculo Tambro de Criola
18h – Apresentação- Emô Ejá- Adriano
Percussão Afro
18h30 – Apresentação de Vanessa Reis
Cantora de samba


sábado, 13 de novembro de 2010

A situação do negro no Brasil.

A identidade de um povo, num Estado nacional, pode se transformar, lentamente, seguindo as modificações históricas ou de forma mais veloz, sobretudo em períodos de guerra ou de grandes transformações locais ou mundiais. Muitas vezes tais mudanças são geradas durante certo tempo e, a partir de algum movimento, tornam-se visíveis.
Assim sendo, para entender o presente, é preciso compreender o que a história significa no passado e para o futuro e, ainda, a diferença entre a história, os pontos de vista históricos e as interpretações da história.
O Estado brasileiro, escravista durante mais de trezentos anos, reestruturado por conceitos republicanos excludentes, impôs e estimulou, ao longo da história, conceitos de nacionalidade que determinaram um discurso cultural distante da realidade multi-cultural do país.
A cultura brasileira, essencialmente permeada por valores femininos, negros, caboclos, indígenas, definida por encontros e conflitos, foi mediada, durante anos, pelo discurso da democracia racial e sua manifestação material legitimada a partir de uma leitura política branca.
A rica diversidade da cultura dos povos de origem européia aqui recriada, as africanidades brasileiras, as contribuições asiáticas, judias e árabes, as expressões indígenas resultantes dos conflitos da colonização, as características de nossa 'antropofagia', nossa identidade construída com referência em uma diversidade hierarquizada -, nem sempre essa dinâmica foi considerada pelo discurso que justifica e teme as desigualdades estruturais.

Começa, porém, a ser desenhada uma cultura de democracia participativa, que necessariamente inclui a cidadania cultural. O Brasil, Estado/nação, vive, neste momento, um período privilegiado no que diz respeito às possibilidades de concretizar transformações fundamentais abortadas em vários períodos da história. As profundas transformações dos conceitos de identidade nacional são então amparadas por uma política cultural inclusiva, que começa a se materializar valorizando a diversidade e desestruturando a hierarquia herdada da escravidão.

Espelho, espelho meu....

Em 1814, o governo geral do Rio de Janeiro recomenda ao governador da Bahia:

'Determina Sua Alteza Real que V. Exa. proíba absolutamente os ajuntamentos de Negros chamados vulgarmente batuques, não só de dia, mas muito particularmente de noite, pois ainda que se lhes permitisse isto para os fazer contentes não deve continuar esta espécie de divertimento, depois de terem abusado tanto dela.'

(Com o aumento das revoltas da escravos e de outros grupos pobres, principalmente a partir do fim do século XVIII, os batuques foram considerados focos de rebelião e esteticamente proibidos)
O Brasil tem a maior população negra fora da África e a segunda maior do planeta. A Nigéria, com uma população estimada de 85 milhões, é o único país do mundo com uma população negra maior que a brasileira.
Responsável pelo maior translado humano da história - entre 3,6 e 5 milhões de africanos foram importados para o Brasil, de várias partes do continente africano -, a escravidão gestou estruturas, relações sociais e econômicas, valores e conceitos, visão de mundo incluindo visão de Estado, que tinham por meta sua permanência, sobrevida e a manutenção dos privilégios resultantes.
Só a partir da década de 1930, com base, principalmente, nas teses sobre a miscigenação e na forma envergonhada de expressão do discurso racista, consolidou-se no país o mito da democracia racial. O que significa que, ainda durante a maior parte deste século, foram inibidas ações de combate ao racismo, a organização cultural e política dos negros brasileiros, e a implantação de políticas para a superação das desigualdades raciais. No período pós-Abolição, a ausência de um sistema legal explícito que definisse as desigualdades e, ainda, as africanidades visíveis da cultura brasileira, serviu como argumento para que o Estado e a sociedade desconsiderassem a necessidade de se criar mecanismos para a inclusão do povo negro no processo de desenvolvimento nacional.
A rica história invisível dos seres escravizados nos vários países africanos, sua recriação cultural, são apenas parte do ser cultural brasileiro. A polícia, a prática da medicina e das outras ciências, a cultura de produção rural e de utilização da terra, a política de imigração, o sistema político, os métodos utilizados para a sistematização dos dados, as relações de produção e de gerenciamento da riqueza, o regime de propriedade e de créditos, o sistema legal e o escolar, o mercado de trabalho, tudo foi estruturado para atender à necessidade de enriquecer os senhores, de controlar o escravo ou, depois, para consolidar e justificar as desigualdades.
Mais de trezentos anos de escravidão, do século XVI até o final do século XIX, como instituição legal, social e econômica, que determinou o estilo de vida do Brasil colônia, representam uma referência histórica fundamental para se compreender as desigualdades raciais no país, e o aprofundamento da hierarquização dos direitos e da própria definição de humanidade, de valor social da pessoa.
O escravo, para que a escravidão se justificasse, não era considerado um ser totalmente humano por nenhuma das instituições, inclusive pela igreja. As práticas culturais e religiosas, a visão de mundo desse conjunto humano foram sistematicamente desqualificadas, apesar de sua integração ao modo de ser nacional, após mais de trezentos anos de convivência cultural, e sendo a sua força de trabalho responsável pelo desenvolvimento da economia. A aparência física dos negros, exceto quando se tratava de servir sexualmente os senhores, foi associada à dos animais e esteticamente desagradável ou inferior. Seu corpo era para o trabalho e sua força utilizada corno a dos animais. A participação nas artes, extremamente relevante sobretudo no século XVIII, pouco ampliou os seus direitos, ou lhes assegurou o exercício da cidadania.
"Durante a escravidão, e mesmo após, as expressões religiosas negras foram descritas por escrivão de polícia a que narrava invasões de terreiros ou derrotas de revoltas, por autoridades eclesiásticas e civis preocupadas em combater a 'feitiçaria' e a subversão dos costumes..." -
João José Reis

Se o movimento abolicionista foi longo, heterogêneo e, por fim, vitorioso, a República surgiu como reação ao fim absoluto da escravidão, apesar do engajamento de lideranças negras no movimento republicano.
Várias peças religiosas tomadas dos 'pretos', africanos, e dos 'criolos', afro-brasileiros, ainda hoje estão nas delegacias, senão foram destruídas ou desapareceram.
Principalmente a partir da promoção, pelo Estado, da imigração européia subvencionada para substituir a mão-de-obra negra, da criação de status superior de cidadania para os imigrantes recém-chegados em relação aos negros, das promessas do Estado de embranquecer a nação, da participação periférica dos afro-brasileiros no processo de industrialização, da fraca representatividade política, da desqualificação de suas referências culturais, estruturou-se o que pode ser chamado o sistema de exclusão racial informal.
O desejo, a quase que necessidade brasileira de ser uma democracia confundiu-se com o mito desmobilizador longamente cultivado.

Zumbi, mostra a tua cara !
Agora, no final de seu quarto de século, o país passa por profundas transformações. No início dos 1900, representantes do Estado e dos setores dirigentes prometia que este seria um país branco em cem anos, como forma de assegurar presença respeitável nos conclaves internacionais. As projeções para o V Centenário, os cenários desenhados para a o início do próximo milênio, mostram, entretanto, que a diversidade e a expressão afro-brasileira agregam valor ao Brasil no cenário mundial.
Mas, que processos culturais permitirão as imensas possibilidades humanas de valorizar suas diferenças? Que processos transformarão o imaginário social que manifesta perversamente o racismo envergonhado, e se justifica com a afirmação de que aqui não se pratica racismo como lá ... ?
Novas referências estão sendo construídas para que a política cultural inclua a riqueza material e imaterial gestada pelos africanos e seus descendentes brasileiros.
Os produtores e criadores negros, os intelectuais, movimentos militantes, todos têm papel relevante nesse processo, e têm sido considerados. Entretanto, ainda não é possível ter certeza da imagem real de Zumbi dos Palmares (enquanto são vários os desenhos que retratam Domingos Jorge Velho) para que, além de ocupar a galeria dos heróis, possamos ter sua foto estampada nas moedas nacionais. Ou ir além das caricaturas de Anastácia e Chica da Silva e, ainda, descobrir a história verdadeira do fim de Luiza Mahin, a mãe de Luiz Gama. Somente diretrizes e investimento político do Estado têm sido capazes de interferir na estrutura dinâmica cultural e de criar mecanismos distributivos para compensar as desigualdades históricas. Isso para que as mudanças não sejam cosméticas.


Cumprindo a agenda atrasada

O ano de 1995, tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares, último líder da República de Palmares, quilombo criado em Alagoas, que durou cerca de cem anos e foi destruído em 1694 , foi um marco na relação negro - Estado e na cultura do Estado em relação ao negro.

Ao som dos tambores, que no dia 20 de novembro protestavam contra o que tem sido definido como apartheid sem leis, e respondendo às críticas e propostas do movimento social negro, o presidente da República, em um ato no Palácio do Planalto, falou abertamente sobre o racismo, criou o Grupo de Trabalho para a Valorização da População Negra e elegeu a cultura, nominalmente a Fundação Cultural Palmares, como uma das áreas de investimento imediato para iniciar as transformações.
Foi preciso o engajamento pessoal do chefe do Estado para romper a inércia e a tendência à desqualificação política do negro. Sabe o sociólogo Fernando Henrique Cardoso que por decreto não se muda o contexto social, mas que o círculo vicioso precisava ser rompido e que orçamentos, leis e programas refletem os conceitos culturais. Ainda não nomeava ali, porta-vozes confiáveis, intermediários como se costuma fazer - criava, isto sim, espaços de poder para elaboração de propostas e execução, que, embora ainda limitados, representavam um ponto de força na estrutura do governo.
A cultura sempre foi o espaço possível para o exercício da sensibilidade negra, embora essa participação não mudasse o lugar social de seus realizadores. Principalmente antes de a indústria controlar o setor, o talento era limitado pelas condições de vida. Além da matriz cultural brasileira, do imaginário e da visão de mundo serem expressões profundas da africanidade aqui recriada, a expressão através das artes é fundamental, mesmo que descontextualizada.
Programas, projetos, convênios, revisão de conceitos e de sua materialização em apoios e orçamentos estão sendo realizados de forma a se criar um ambiente que permita a realização das mudanças estruturais projetadas pelos abolicionistas, adequadas a este final de milênio.
As comunidades negras rurais organizadas em quilombos, importantes celeiros culturais por sua história, com prática coletiva de produção diversificada, relação harmônica com o meio ambiente, foram identificadas. Estão sendo demarcadas as suas terras e eles estão recebendo os seus títulos de posse. São territórios culturais, são territórios habitados pelas mesmas famílias por vezes há mais de trezentos anos, vulneráveis devido à ausência, até então, de sua inclusão nos projetos fundiários do governo. Suas populações estão sendo capacitadas para potencializar os recursos e programas pilotos específicos de educação e saúde estão sendo realizados.
Programas de apoio ao desenvolvimento de uma dramaturgia afro-brasileira e capacitação para a representação adequada desse grupo humano estão sendo realizados em todo o país. São re-qualificados técnicos em comunicação, roteiristas, atores, diretores, artistas gráficos, através de convênios de várias naturezas.
A invisibilidade, ou a exposição desqualificada dos negros e de sua cultura, eram motivo para a baixa auto-estima, tanto dessa população quanto dos brasileiros em geral, na sua grande maioria afro-descendentes.
O mapa da produção cultural negra e de sua história urbana e rural está sendo organizado e já parcialmente disponibilizado através dos meios informatizados. A história hoje disponível apenas em acervos fechados ou de difícil acesso, também no exterior, às vezes fragmentada, está sendo organizada em um banco de dados que inclui toda a diversidade e inteligência negra brasileira. Peças religiosas estão sendo identificadas e devolvidas aos seus proprietários, quando não são doadas para o acervo. Sítios arqueológicos, como a serra da Barriga, e áreas de antigos quilombos estão sendo estudadas. A história da língua portuguesa no país, da perda das línguas de origem africana e da 'invenção' da língua que falamos em todo o território nacional, está sendo sistematizada. A vida de mulheres como Chica da Silva, Carolina de Jesus, Luiza Mahin; a competência e o desencanto político de abolicionistas como André Rebouças, Joaquim Nabuco e Luís Gama, que pensavam o desenvolvimento brasileiro; Machado de Assis; as irmandades; os terreiros e a ação dos seus líderes espirituais; a sensibilidade e o universo contraditório dos cientistas; os conceitos de produção diversificada, em oposição às plantations, desenvolvido por muitos quilombos; o trabalho sofisticado com metais - toda essa riqueza começa a estar disponível em várias linguagens para a nação que não conhece a trajetória ancestral de, no mínimo, quarenta e cinco por cento de sua população.
A projeção da cultura brasileira no exterior tem sido objeto de ações de difusão que se desdobram em promoção da imagem do país, valorizando o multiculturalismo e o intercâmbio cultural. A pluralidade nacional começa a ser adequadamente representada e a presença de artistas afro-brasileiros começa a ser mais diversificada no mercado.
O marco físico e, ao mesmo tempo simbólico, da nova postura do governo é a criação do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra.
A compreensão de que a falta de informação mantém a população negras estagnada nos espaços sociais inferiores, por vezes indiferente a possibilidades transformadoras e, ainda, que os cidadãos de todas as origens precisam ter referências para que se orgulhem das nossas africanidades, levou o governo, através da Fundação Cultural Palmares, a desenvolver e a implantar tal projeto.
O Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra, cuja placa da pedra fundamental foi assinada pelos presidentes Nelson Mandela e Fernando Henrique Cardoso, será inaugurado no marco do V Centenário do Descobrimento do Brasil, na capital federal, com o objetivo de ampliar a capacidade de participação dos afro-brasileiros no processo de desenvolvimento humano, científico e tecnológico do país. O diálogo cultural com a África e com os países multirraciais ganha novo conteúdo a partir dessa iniciativa.
O reconhecimento da importância da cultura negra no dia-a-dia nacional e de suas dinâmicas positivas como modelo civilizatório tem se expandido. Sua essência musical, a capacidade desse coletivo de transformar condições adversas em fatores de desenvolvimento humano e alegria, sua estética rica em diversidade, sua religiosidade inclusiva, passam a ser percebidas no conjunto da nação como elementos positivos da nossa diversidade.
O sistema de valores culturais do Estado, ao incluir a história do negro, tem se transformado e exigido novas reflexões, novo vocabulário, o desenvolvimento de novos conceitos de cidadania e, sobretudo, o início de mais respeito por essas novas vozes num cenário que nunca foi representativo dessa pluralidade.
Os projetos apoiados pelo Fundo Nacional de Cultura, pelas leis do mecenato, para obras de conservação e preservação do patrimônio, têm, devido ao engajamento pessoal do ministro Francisco Weffort, mais e mais incluído o patrimônio afro-brasileiro. As ações nos Estados e municípios estão sendo estimuladas a considerar a diversidade local. Dirigentes locais começam a perceber que o patrimônio criado pelos negros gera recursos e visibilidade para suas unidades administrativas e que, portanto, os produtores de tal riqueza devem ser considerados.

Política multi-cultural
A nova política cultural brasileira cria imensas possibilidades e muitas demandas para o Estado e para a sociedade.
O mercado foi motivado, surgiram e foram ampliadas várias publicações destinadas ao público negro. Uma nova estética, mais inclusiva, começa a ser visível na moda. A comunicação, inicialmente a oficial e agora, lentamente, a comercial, começa a tratar o negro como pessoa e a incluir imagens de seres humanos dos vários grupos étnicos.
0 mercado cultural, entretanto, continua excludente e o financiamento a produções negras muito tímidas. Há ainda uma imensa distância entre o discurso cultural e a prática da inclusão. Os produtos do teatro, da música, da dança, da literatura, do cinema, da televisão e da pintura, apresentados no cotidiano, estão longe de refletir a dinâmica social. Os produtores, com referência nos conceitos criados pelo mito da democracia racial, tratam o negro como segmento, de forma descontextualizada e eventual.
Por sua vez, os movimentos negros, que motivaram com seu ativismo histórico as mudanças atuais, têm sido parceiros críticos do Estado e começam a atuar junto a outros setores para aprofundar as transformações e para garantir que a agenda do governo seja agilizada. A descrença nas instituições e a indiferença em relação à representação política começam a serem transformadas no conjunto da população.
Nota-se uma profunda transformação em curso na identidade nacional. A compreensão das africanidades, aqui recriadas como parte do ethos brasileiro, muda as referências e rompe as limitações impostas por um falso eurocentrismo e põe por terra os conceitos de raça e de fragmentação da diversidade. A inclusão valorizada do negro desmobiliza a necessidade de se provar que o diferente é melhor ou pior, além de permitir trocas mais profundas e prazerosas entre os humanos de várias origens.
Entretanto, como os valores do Estado só se transformam através de leis, programas e políticas, estão sendo organizados dados sobre o resultado dos investimentos planejados para o período de 1994 a 1999, a fim de que o próximo plano plurianual inclua metas específicas para a criação de um novo cenário, até o início da próxima década.
A obra civilizatória brasileira - a possibilidade do privilégio do encontro superar as marcas da perversidade e as agruras do caminho percorrido -, começa a ser esculpida ao som dos tambores, com a sabedoria das negras velhas e a elegância da capoeira.

Não vos alerto por represália
Nem cobro meus direitos por vingança.
Só quero
Banir de nossos peitos
Esta goma hereditária e triste
Que muito me magoa
E tanto te envergonha.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

AINDA SOMOS ESCRAVOS

Cada símbolo, cada gesto
Cada momento em ação
Esse é o espaço da gente
Demolir a escravidão
Que ainda corrói a gente

Falar de consciência negra
Não é coisa tão banal
É um jeito diferente
De se questionar
Não queremos troféu
Só que saia do papel
Leis que protegem a gente
 
20 de novembro
É uma data especial
Para juntos refletirmos
A indiferença social
Cada irmão tem seu dever
Juntos combater
Essa questão racial.
 
Dia da consciência negra
É símbolo de luta e liberdade
Que nossas mãos não se cansem
Nossa voz não se cale
Devemos ter na memória
De seguir as mesmas trilhas
Do nosso herói zumbi
Modelo da igualdade.
 
Nosso povo, nossa gente,
Nossos heróis, nossos irmãos
De a vida pelos seus
Não queriam a guerra não
Só queriam ser mais gente
Viver a vida decente
Sem chicote, sem grilhões.
 
A cada canto da terra
Há uma senzala, um porão
Há um engenho, um tronco
Um negro é chicoteado
Há um feitor de plantão.

Cada hora, cada minuto
Cada momento em vão
Um irmão é tombado ao chão
Cada momento é cruel
Uma mulher é estuprada,
Morta, violentada
Essa é a triste questão.
 
Esta tal desigualdade
Parece não ter solução
Já não podemos aceitar
Tanta discriminação
 
Chega de hipocrisia Queremos mais respeito
Queremos cidadania. 
 
(Maria da Conceição Amparo Alves)


 

Dia da Consciência Negra

O dia da consciência Negra retrata a disputa pela memória histórica.

Preservar a memória é uma das formas de construir a história. É pela disputa dessa memória, dessa história, que nos últimos 32 anos se comemora no dia 20 de novembro, o "Dia Nacional da Consciência Negra".

Nessa data, em 1695, foi assassinado Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, que se transformou em um grande ícone da resistência negra ao escravismo e da luta pela liberdade. Para o historiador Flávio Gomes, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a escolha do 20 de novembro foi muito mais do que uma simples oposição ao 13 de maio: "os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais.

Foi também uma luta pela visibilidade do problema. Isso não é pouca coisa, pois o tema do racismo sempre foi negado, dentro e fora do Brasil. Como se não existisse".


 

Como surgiu o Dia da Consciência Negra

No dia 20 de novembro de 1695, o negro Zumbi, chefe do Quilombo dos Palmares, foi morto em uma emboscada na serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após liderar uma resistência que culminou, também, com o início da destruição do Quilombo.

O Quilombo dos Palmares foi uma comunidade criada pelos escravos que fugiam de seus senhores para viver em liberdade. Houve uma época em que o Quilombo abrigou mais de 20 mil pessoas.

Zumbi nasceu no Quilombo mas, ainda recém-nascido, foi capturado e entregue a um padre, que lhe deu o nome Francisco, o ensinou a ler e a escrever. Aos 15 anos de idade, o menino resolveu voltar ao Quilombo, onde, pouco tempo depois, tornou-se líder. Em 1995, após 300 anos de sua morte, Zumbi foi reconhecido como herói nacional.

As rebeliões de escravos foram bastante freqüentes no período colonial. Os negros fugidos escondiam-se na mata e organizavam-se em grupos, para sobreviver à hostilidade do ambiente e às investidas dos brancos.

Os grupos, internamente coesos, recebiam o nome de quilombos e as aldeias que os compunham, de mocambos. O mais conhecido dos quilombos foi de Palmares, pois foi o que mais tempo durou (1630 -1695), o que ocupou maior área territorial (cerca de 400 km2 dos atuais estados de Pernambuco e Alagoas) e o que resistiu mais bravamente aos ataques dos brancos.

Palmares se organizou como um verdadeiro Estado - com as estruturas dos estados africanos, onde cada aldeia tinha um chefe, os quais elegiam seu rei - e possuía um verdadeiro exército, além de fortificações em torno das aldeias, que deixaram os comandantes brancos admirados.

Tinha uma produção agrícola bem avançada, que dava para a subsistência das aldeias e ainda produzia um excedente que podia ser negociado com mascates e lavradores brancos. No entanto, a própria existência de um Estado independente dentro da colônia era inaceitável para os portugueses, que consideravam Palmares como seu maior inimigo, depois dos holandeses.

O primeiro rei de Palmares foi Gangazumba, que comandou uma bem-sucedida resistência, repelindo dezenas de expedições dos brancos. Em 1678, assinou uma trégua com o governador Aires de Souza e Castro - atitude que dividiu o quilombo.

Em conseqüência, Gangazumba terminou por ser envenenado. Foi substituído por Zumbi que já era um líder respeitado e que se tornou o grande herói dos Palmares. Várias investidas foram feitas contra o quilombo: duas ainda sob o domínio Falar sobre o Dia Nacional da Consciência Negra nos faz parafrasear Patativa quando ele propõe o respeito às diferenças. Acreditamos que isto não deve ser encarado como concessão ou exceção a uma regra socialmente estabelecida, mas como o direito de igualdade em oportunidades entre os indivíduos.

O dia 20 de novembro marca o assassinato do líder Zumbi dos Palmares, oficializado herói nacional, por ocasião do tricentenário de sua morte em 1996. Símbolo da resistência contra o racismo, a opressão e as desigualdades sociais. Marca da resistência dos povos contra o colonialismo, o imperialismo e o terrorismo em todo o mundo, sob todas as formas.


 

Construindo o "Dia da Consciência Negra"

O 20 de novembro trata da data do assassinato de Zumbi, em 1665, o mais importante líder dos quilombos de Palmares, que representou a maior e mais importante comunidade de escravos fugidos nas Américas, com uma população estimada de mais 30 mil.

Em várias sociedades escravistas nas Américas existiram fugas de escravos e formação de comunidades como os quilombos. Na Venezuela, foram chamados de cumbes, na Colômbia de palanques e de marrons nos EUA e Caribe. Palmares durou cerca de 140 anos: as primeiras evidências de Palmares são de 1585 e há informações de escravos fugidos na Serra da Barriga até 1740, ou seja bem depois do assassinato de Zumbi. Embora tenham existido tentativas de tratados de paz os acordos fracassaram e prevaleceu o furor destruidor do poder colonial contra Palmares.

Há 32 anos, o poeta gaúcho Oliveira Silveira sugeria ao seu grupo que o 20 de novembro fosse comemorado como o "Dia Nacional da Consciência Negra", pois era mais significativo para a comunidade negra brasileira do que o 13 de maio. "Treze de maio traição, liberdade sem asas e fome sem pão", assim definia Silveira o "Dia da Abolição da Escravatura" em um de seus poemas. Em 1971 o 20 de novembro foi celebrado pela primeira vez. A idéia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial e, no final dos anos 1970, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado.

A diversidade de formas de celebração do 20 de novembro permite ter uma dimensão de como essa data tem propiciado congregar os mais diferentes grupos sociais. "Os adeptos das diferentes religiões manifestam-se segundo a leitura de sua cultura, para dali tirar elementos de rejeição à situação em que se encontra grande parte da população afro-descendente".

Os acadêmicos e os militantes celebram através dos instrumentos clássicos de divulgação de idéias: simpósios, palestras, congressos e encontros; ou ainda a partir de feiras de artesanatos, livros, ou outras modalidades de expressão cultural.

Grande parte da população envolvida celebra com samba, churrasco e muita cerveja", conta o historiador Andrelino Campos, da Faculdade de Formação de Professores, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

"É importante que se conquiste o "Dia Nacional da Consciência Negra" como o dia nacional de todos os brasileiros e brasileiras que lutam por uma sociedade de fato democrática, igualitária, unindo toda a classe trabalhadora num projeto de nação que contemple a diversidade engendrada no nosso processo histórico".

Para o historiador Flávio Gomes, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a escolha do 20 de novembro foi muito mais do que uma simples oposição ao 13 de maio: "os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais. Foi também uma luta pela visibilidade do problema. Isso não é pouca coisa, pois o tema do racismo sempre foi negado, dentro e fora do Brasil. Como se não existisse".

O projeto neoliberal implantado em nosso país acirra as desigualdades, afetando, ainda mais, as parcelas menos favorecidas da população brasileira. Em pesquisa realizada pelo DIEESE (1998) são apresentadas informações que comprovam a discriminação à população negra, tomando por base as regiões metropolitanas.


 

Taxas de Desemprego por Sexo e segundo a Raça

Os dados apresentados demonstram que as taxas de desemprego entre homens e mulheres, negros (as) e não negros (as) ainda registram valores muito elevados. Se compararmos a diferença das taxas entre homens negros e não negros, com mulheres negras e não negras, a maior diferença estará em relação às mulheres negras, já que estas apresentam, em todas as regiões, as maiores taxas de desemprego.

No entanto, este debate não se encerra na mera inserção no mercado de trabalho. Deve ser acompanhado pelos números que registram a taxa de analfabetismo o número de anos de permanência na escola e a média de rendimentos salariais.

Na Síntese dos Indicadores Sociais - IBGE (2000) é apontado que, em 1999, a taxa de analfabetismo entre pretos e pardos é de 20%, enquanto entre os brancos cai para 8,3%. Quando demonstram o número de anos de permanência na escola as estatísticas não são diferentes: os pretos passam 4,5 anos, os pardos 4,6 anos e os brancos 6,7 anos. Isto demonstra que os pretos e pardos saem mais cedo da escola, o que irá refletir, diretamente na população jovem, quanto ao acesso ao nível superior e ao mercado de trabalho.

Quando empregados (as) os níveis salariais também servem para denunciar a discriminação econômica e de gênero. Conforme Sueli Carneiro e Thereza Santos, na obra "Mulher Negra" : 83,1% das mulheres negras trabalham na agricultura e na prestação de serviços (principalmente como empregadas domésticas); 60% não têm registro em carteira. Quanto à média salarial, os homens brancos recebem 6,3% salários mínimos (s.m), os negros 2,9 s.m, as mulheres brancas 3,6 s.m e a s mulheres negras 1,7 s.m Tais dados tornam-se ainda mais gritantes quando se estima que o número de mulheres chefes de família no país varia entre 20% e 25%. As condições de trabalho e salários destas mulheres refletiram diretamente no grau de pobreza dessas famílias.

O projeto do Dia Estadual da consciência negra a ser comemorado em cada dia 20 de novembro originou a Lei de n.º 12056 de 12 de janeiro de 1993, onde estabelece que o Governo e a Assembléia legislativa promoverão atividades alusivas a esta data. Ficou instituído também que as comemorações nas escolas públicas estarão relacionadas a dedicação das atividades curriculares para abordagem de temas relativos a participação do negro na história do Brasil.

Remeto-me, nesse momento, a todos aqueles que lutam, alguns chegando a dar a própria vida, em nome da liberdade, da democracia e do respeito às diferenças. Dos povos indígenas à Zumbi dos Palmares; dos negros (as) escravo (as) a Joaquim Nabuco, de Chica da Silva aos poetas Cruz e Souza, Lima Barreto; de Castro Alves à Jorge Amado; do Mestre Aleijadinho ao Geógrafo Milton Santos; de Chiquinha Gonzaga aos guerrilheiros e guerrilheiras do Araguaia. Nesta data símbolo da resistência saúdo a todos que lutam e lutaram na construção de um mundo justo e igualitário.

Para a socióloga Antonia Garcia, doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é importante que se conquiste o "Dia da Consciência Negra" "como o dia nacional de todos os brasileiros e brasileiras que lutam por uma sociedade de fato democrática, igualitária, unindo toda a classe trabalhadora num projeto de nação que contemple a diversidade engendrada no nosso processo histórico".

Referências bibliográficas:

ACDS – Associação Cultural e Desportiva Samburá

DIEESE - Reportagem da revista Com Ciência, editada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC

Autoria: Marcos Júlio Lyra

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