Atividade inicial
A idéia de trabalhar com estas histórias surgiu para que os alunos as conhecessem, pois elas foram deixadas pelo povos da África como cultura oral – onde os anciões das tribos eram valorizados justamente por conhecer muitas coisas e transmiti-las aos mais jovens. E as heranças deixadas por eles foram trazidas para o Brasil com a vinda dos escravos, e até hoje, temos a influencia cultural africana.
Iniciei o trabalho com uma roda de conversa explicando justamente essas heranças e o quanto ela foi importante para a formação do povo brasileiro e fomos para a sala de vídeo assistir o desenho “Kiriku e a Feiticeira”, que mostra exatamente esta realidade, onde os mais velhos transmitem todo o conhecimento para os outros.
No dia seguinte conversamos sobre a história assistida no vídeo, levantei alguns questionamentos para que eles falassem sobre aquele estilo de vida (tribos africanas e suas famílias). Questionei também se os seus avós, os tios e pais contavam histórias ou algum fato passado, e alguns alunos contaram situações transmitidas pelos adultos da família. Percebi também que grande parte dos meus alunos não tinha este tipo de contato com a família.
Leitura e estudo de texto bem escrito
Esclareci para todos que nosso projeto consistia na busca de conhecer melhor os contos e fábulas africanas, recontá-las para socializar com todos, reescrevê-las e, depois, escrever suas próprias histórias, finalizando com um livro criado e ilustrado por eles. Após pronto o livro contaríamos para os alunos das outras salas.
A primeira reescrita deste projeto foi do desenho assistido (“Kiriku e a Feiticeira”). Fizemos coletivamente, eu era o escriba, enquanto eles me descreviam os fatos. Com o texto na lousa, os alunos foram lendo para corrigir possíveis erros gramaticais ou estruturais.
Após esta correção registraram a reescrita no caderno.
Num outro dia, trouxe vários livros com contos e fábulas africanas (conforme bibliografia no primeiro relatório). Distribuí para que os grupos pudessem olhá-los, este primeiro contato os fez mais curiosos.
Como havia muitas histórias, li alguns dos títulos para que escolhessem aquela que fariam a leitura. Neste momento de leitura, eu já havia separado em grupos de quatro ou cinco alunos e explicado que o grupo leria o conto ou fábula escolhida para depois recontar para o grupo. Dividi em dois dias os recontos, para não ficar cansativo para o grupo. A idéia de recontar o que cada grupo lera, tinha o objetivo de diferenciar uma leitura de um reconto, pois teriam que conhecer e compreender muito bem o que leram além de usar suas próprias palavras para contar. Foi muito bom o resultado, eles se mostraram nervosos e empolgados.
Eu iniciei também, neste momento, a leitura da história “O filho do vento” de Joel Rufino dos Santos, eu mesma li, em capítulos, pois era um conto grande.
Na semana seguinte, antes de iniciarmos a reescrita das histórias estudadas, fizemos uma atividade de análise de um texto bem escrito. Escolhi o trecho inicial da história “Negrinha” de Monteiro Lobato, pois relata a vida de uma garotinha escrava do período escravocrata brasileiro, é uma realidade bem triste e um texto com muitas palavras difíceis, exigiria muita reflexão de todos.
Em duplas entreguei o trecho inicial da história digitado e pedi que fossem grifando os trechos onde havia palavras desconhecidas por eles. Enquanto desenvolviam a atividade, passei na lousa o mesmo trecho.
Terminado o estudo, socializaram o que descobriram. Foi muito rico, pois o trecho que escolhi, trouxe muitas palavras pouco utilizadas, algumas bem formais, o dicionário foi muito utilizado e as vezes eu mesma tive que intervir. Durante a socialização fomos desvendando as dificuldades e percebendo o quanto o texto mostrava a discriminação e humilhação sutil que imperava na época, eles se mostraram indignados com a forma que a menina era tratada. Pudemos discutir e comparar com a atualidade, pois enfrentamos preconceito ainda hoje.
Iniciando as reescritas
Dos grupos, passamos a trabalhar em duplas, pois fariam as reescritas dos contos / fábulas que leram. Para acalmá-los, esclareci que poderiam usar suas próprias palavras, porém, se preocupando com a estrutura textual e com os erros ortográficos. Orientei também, para a leitura pós-escrita e o uso do dicionário durante o trabalho. Pensei muito em certas duplas, para que ficassem equilibradas, e mesmo assim, precisei focar um tempo maior em algumas, para intervir mais.
Num outro dia da semana, entreguei as reescritas para eles grifarem o que encontraram de erros ortográficos, neste momento não me preocupei com a estrutura textual.
No mesmo dia destrocaram para que as duplas fizessem as correções, neste momento auxiliei para as dúvidas que surgiram.
Num outro momento de revisão, as duplas iam me consultando para aquelas palavras que ainda não conseguiram desvendar, algumas duplas precisaram de mais atenção como a do Luis e do Thiago, da Bruna Steffane e o David, e do Lucas e o Hervert.
A última e quarta revisão realizada, fui intervindo diretamente, pois a estrutura textual precisava ser melhorada, atendi dupla a dupla para que pudessem realizá-la. Levei mais tempo nesta última revisão, três dias, principalmente com alguns alunos que costumam faltar, com estes, continuei com a revisão, enquanto os outros já começaram a passar a limpo a reescrita já revisada.
Contos e fábulas de autoria própria
O próximo passo foi a escrita de própria autoria de contos ou fábulas. As duplas decidiram quais animais iriam fazer parte de suas histórias, decidiram em duplas, também, qual seria o conflito e solução de suas histórias.
Este momento foi muito bom, pois eles estavam empolgados, se preocuparam mais com a forma textual e com as palavras, me perguntaram bastante como se escrevia tal palavra, ou traziam o texto para ver se era daquela forma, se mostraram bastante interessados.
Fizemos a revisão da mesma forma que anteriormente, mas alguns desenvolveram as escritas mais facilmente, já refletiram melhor nas etapas de revisão.
Finalizamos com os desenhos para compor a capa e partimos para a apresentação das reescritas e das escritas deles.
Apresentação
Conversei com os professores para prepararem seus alunos para receber os meus com interesse. Não foi problema, pois já havíamos socializado as produções em nossa Feira Cultural, então o assunto já havia sido socializado.
Foi muito importante esse momento, pois percebi a realização e a alegria que tiveram de apresentar e depois do livro pronto e encadernado, ficou mais concreto o que cada dupla realizara.
Os desafios
A escrita de alguns alunos foi bem diferente de outros, alguns faltam com muita freqüência e outros apresentam realmente dificuldade, tive que deter mais tempo com eles, refletir junto, pedir para reescrever duas ou três vezes para acertar o que precisava.
Os que faltam bastante são alunos com muita dificuldade, alguns se alfabetizaram este ano, o trabalho em dupla ajudou muito, mas quando faltavam, perdiam aquele momento de reflexão, por isso, precisei acompanhar individualmente alguns deles e por mais tempo.
Adorei o resultado, mesmo com estes alunos, pois puderam refletir, trabalhar com o auxilio de um amigo que sabia mais e ele precisou se envolver se quisesse que sua história fizesse parte do livro.
Anexei a este livro, todas as etapas das escritas revisadas dos seguintes alunos: Vanessa e Bianca Cardoso; Gislaine Rocha e Áquila; Matheus Valencio e Bruno Henrique; Bruna Steffane e David Correia.
No trabalho escolar sempre envolvo outros colegas esse registro gostoso de ler é de uma colega que trabalhou comigo com o projeto envolvendo a temática racial e a Sandra Silvestre que produziu esse texto, muito bom e retrata a vivencia de uma profissional comprometido com a prática e com o seu papel de sujeito social. Valeu Sandra.
ResponderExcluirGostei muito do blog,difernte do que eu tenho visto na ne!!!!!
ResponderExcluirGostei do seu relatório, vai me auxiliar para trabalhar o projeto África em minha escola, abç
ResponderExcluirObrigada colegas pela visita! Que bom que gostaram esse é o meu maior objetivo, compartilhar essa cultura e possibilidades para trabalhar essa temática. Abraços Raquel
ResponderExcluirParabéns! Sugestões ótimas de situações de aprendizagem.
ResponderExcluirObrigada Vyvian pela visita ..Temos como objetivo compartilhar a prática e possibilitar boas sugestões de aprendizagens para que a Educação se torne inclusiva e justa.
ResponderExcluirAbraços Raquel
Adorei o Blog,ótimas sugestões para aplicar em sala de aula. Parabéns.
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