quarta-feira, 31 de março de 2010

Negro tem risco duas vezes maior de ser assassinado no País do que branco

Lendo O Estado de São Paulo hoje pela manhã, encontrei uma reportagem que muito me chamou a atenção. São dados verdadeiros e críticos, penso que essa realidade precisa mudar. Precisamos pensar as causas desses riscos. Devemos aceitar?
Entre os jovens, desigualdade chega a 130%; série histórica inédita só foi possível a partir de 2002, com maior detalhamento dos óbitos
Segundo Lígia Formenti - O Estadao de S.Paulo direto da redação de BRASÍLIAo Brasil registrou 47,7 mil assassinatos em 2007, o equivalente a uma média diária de 117 mortes, conforme o Mapa da Violência 2010: Anatomia de Homicídios no Brasil. Mas o dado mais alarmante do relatório divulgado ontem é que pela primeira vez foi possível, numa série histórica de cinco anos, quantificar o risco de um jovem negro ser vítima de homicídio no País. E esse risco é 130% maior do que o de um jovem branco.
Essa situação não é diferente quando se analisam todas as faixas etárias. O número de vítimas brancas passou de 18.852 para 14.308, o que significa uma redução de 24, 1%. Entre negros, o número de mortes saiu de 26.915 para 30.193, um crescimento de 12,2%. Para cada branco assassinado, morrem 2,2 negros no País. Isso significa que morrem no Brasil 107,6% mais negros do que brancos.
A desigualdade entre as duas populações, que já era expressiva, aumentou muito num período de apenas cinco anos. Em 2002, morria 1,7 negro entre 15 e 24 anos para cada jovem branco. Em 2007, essa proporção foi de 2,6 para 1.
O abismo entre taxas de homicídios é resultado de duas tendências opostas. Nos últimos cinco anos, o número de mortes por assassinato entre a população jovem branca apresentou redução: 31,6%. Entre negros, houve aumento de 5,3% das mortes no período. "Brancos foram os principais beneficiados pelas ações de combate à violência. Temos uma grave anomalia que precisa ser reparada", diz o autor do estudo, Júlio Jacobo.
A nova série histórica só foi possível porque, a partir de 2002, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a registrar nas certidões de óbito a raça do morto em mais de 80% dos casos. Anteriormente, esse dado só aparecia em cerca de 30% dos registros.

terça-feira, 30 de março de 2010

Berçário Leitura e Escrita

Atividade realizada no Berçário, com manuseio de livros, leitura de imagens e contato com a escrita.

Da Vila do sapo à Vila Nogueira

Produto final de um projeto realizado em 2008, na Escola Municipal Mário quintana, em Diadema.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Reconto de História II

Sequência de Atividade com o livro Berimbau (Raquel Coelho), desencadeadora do livro eletrônico.
ATIVIDADE: BERIMBAU – Raquel Coelho
Turma 1º ano E - Ciclo II
Duração: 8 aulas.
Procedimentos da professora e alunos:
1ª aula:
• Leitura compartilhada;
• Exploração da capa;
• Explicando sobre o autor;
• Após a leitura conversamos sobre o tema e sobre a iniciativa da autora em trabalhar com animação.

2ª aula:
• Resgate da história oralmente;
• Definição de animação;
• Visualização de alguns gifs animados e o seu processo de construção;
• Divisão em dupla para montagem do story board da construção do gif;

3ª aula:
• Desenho do gif no paint (ferramenta disponível no sistema operacional Windows);
• Execução da animação com o software de autoria “Imagine”.

4ª e 5ª aula:
• Divisão da sala em grupos responsáveis pela animação das cenas do livro;
• Confecção dos personagens e cenários para animação.
6ª aula:
• Fotografar as cenas cuidando dos movimentos imaginados para a animação.

7ª aula:
• Produção das animações com o software “Imagine” utilizando as fotografias;
• Junção das cenas pela professora do laboratório no programa “Movie Maker” inserindo abertura, musica, narração e créditos.

8ª aula:
• Apresentação da animação do livro finalizado aos alunos;
• Escrita do e-mail para a escritora “Raquel Coelho” anexando o produto oriundo de uma obra de sua autoria.

domingo, 14 de março de 2010

Inclusão Social

Lí esta reportagem de Jussara de Barros,da Equipe Escola Brasil e achei-a interessante,confiram-na.

INCLUSÃO SOCIAL

É difícil pensarmos que pessoas são excluídas do meio social em razão das características físicas que possuem, como qualquer outra, como cor da pele, cor dos olhos, altura, peso e formação física. Já nascemos com essas características e não podemos de certa forma ser culpados por tê-las.
A inclusão está ligada a todas as pessoas que não tem as mesmas oportunidades dentro da sociedade. Mas os excluídos socialmente são também os que não possuem condições financeiras dentro dos padrões impostos pela sociedade, os idosos, os negros e os portadores de deficiências físicas, como cadeirantes, deficientes visuais, auditivos e mentais. Existem as leis específicas para cada área, como a das cotas de vagas nas universidades, em relação aos negros, e as que tratam da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
O mundo sempre esteve fechado para mudanças, em relações a essas pessoas, porém, a partir de 1981, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou um decreto tornando este ano como o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiências (AIPPD), época em que se passou a perceber que as pessoas portadoras de alguma necessidade especial eram também merecedoras dos mesmos direitos que os outros cidadãos.
As diferenças enriquecem a vida de todos.A princípio, ganharam alguma liberdade através das rampas, que permitiram maior acesso às escolas, igrejas, bares e restaurantes, teatros, cinemas, os meios de transporte, onde, aos poucos, o mundo foi se remodelando para dar-lhes maiores oportunidades.
Hoje é comum vermos anúncios em jornais, de empresas contratando essas pessoas, sendo que de acordo com o número de funcionários da mesma, existe uma cota, uma quantidade de contratação exigida por lei. Uma empresa com até 200 funcionários deve ter em seu quadro 2% de portadores de deficiência (ou reabilitados pela Previdência Social); as empresas de 201 a 500 empregados, 3%; as empresas com 501 a 1.000 empregados, 4%; e mais de 1.000 empregados, 5%.
Nossa cultura tem uma experiência ainda pequena em relação à inclusão social, com pessoas que ainda criticam a igualdade de direitos e não querem cooperar com aqueles que fogem dos padrões de normalidade estabelecido por um grupo que é maioria. E diante dos olhos deles, também somos diferentes.
E é bom lembrar que as diferenças se fazem iguais quando colocadas num grupo que as aceitem e as consideram, pois nos acrescentam valores morais e de respeito ao próximo, com todos tendo os mesmos direitos e recebendo as mesmas oportunidades diante da vida.

Postado por Eliane Westhöfer

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Cântico da Terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.

De mim veio a mulher e veio o amor.

Veio a árvore, veio a fonte.

Vem o fruto e vem a flor.


Eu sou a fonte original de toda vida.

Sou o chão que se prende à tua casa.

Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.

Sou a espiga generosa de teu gado

e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.

De mim vieste pela mão do Criador,

e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.


Eu sou a grande Mãe Universal.

Tua filha, tua noiva e desposada.

A mulher e o ventre que fecundas.

Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.


A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.

O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.


E um dia bem distante

a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio

tranqüilo dormirás.


Plantemos a roça.

Lavremos a gleba.

Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.

Fartura teremos

e donos de sítio
felizes seremos.
Cora Coralina

Ah...

"Ah, que a mulher dê sempre a
 impressão de que se fechar os
 olhos
Ao abri-los ela não estará mais
 presente
Com seu sorriso e suas tramas.
 Que ela surja, não venha; parta,
não vá
E que possua uma certa
 capacidade de emudecer
 subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não
 importa em que mundo
Não importa em que
circunstâncias, a sua infinita
 volubilidade
De pássaro; e que acariciada no
fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder
 sua graça de ave"

Vinícius de Moraes

Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.


Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.


Cecília Meireles

Dia Internacional da Mulher

Violência Contra a Mulher
A violência é um termo de múltiplos significados, e vem sendo utilizado para nomear desde as formas mais cruéis de tortura até as formas mais sutis da violência que têm lugar no cotidiano da vida social, na família, nas empresas ou em instituições públicas, entre outras. Alguns pesquisadores propõem definições abrangentes da violência que levem em conta o contexto social, a distribuição desigual de bens e informações. Para compreender a violência deve-se levar em consideração as condições sociais geradoras de violência - sociais, políticas, econômicas e não apenas os episódios agudos, como a violência física explícita. Distingue-se nesse campo de estudo, a delinqüência (ferimentos, assassinatos e mortes), a violência estrutural do Estado e das instituições que reproduzem as condições geradoras de violência e a resistência às condições de desigualdade.
Outros autores chamam atenção ao fato de que a preocupação com o problema da violência é recente na história, o que estaria relacionado à modernidade e seus valores de liberdade e felicidade, consolidados na concepção de cidadania e dos direitos humanos (1). Com base nesses valores, determinadas práticas passam a serem vistas como formas de violência.
A partir da atuação do movimento de mulheres, comportamentos considerados "naturais" passaram a ser classificados como violência - impedir a mulher de trabalhar fora de casa, negar-lhe a possibilidade de sair só ou de ter amigas, impedi-la de escolher o tipo de roupa que deseja usar, impedir sua participação em atividades sociais, agressões domésticas de pequena monta ou desqualificação e humilhações privadas ou em público, as relações sexuais forçadas dentro do casamento. A violência contra a mulher é uma expressão abrangente, incluindo diferentes formas de agressão à integridade corporal, psicológica e sexual. Fatos mais graves também foram duramente criticados pelas organizações feministas. No Brasil, um marco na história do movimento foi a exigência do fim da impunidade aos criminosos que agiam "em nome da honra". A legítima defesa da honra foi um argumento bastante utilizado por advogados que não hesitavam em denegrir a imagem das mulheres assassinadas, para garantir a absolvição de seus clientes. Invertendo os valores da justiça, as vítimas eram acusadas de sedução, infidelidade, luxúria, levando o homem ao desequilíbrio emocional e à atitude extrema do homicídio.
No pólo oposto a situação enfrentada pelos homens, que na grande maioria das vezes, são agredidos por pessoas estranhas e no espaço público, a violência contra a mulher ocorre principalmente no espaço doméstico, e é cometida por parceiros, ou outras pessoas com quem as vítimas mantêm relações afetivas ou íntimas, incluindo filhos, sogros, primos e outros parentes. Ela está profundamente arraigada nos hábitos, costumes e comportamentos sócio-culturais. De tal forma que, as próprias mulheres encontram dificuldade de romper com situações de violência, e entre outras coisas, por acreditarem que seus companheiros têm direito de puni-las, se acham que elas fizeram algo errado ou infringiram as normas que eles determinaram.
A violência afeta mulheres de todas as idades, raças e classes sociais e tem graves repercussões sociais. Agravos à saúde física e mental, dificuldades no emprego, na aprendizagem, riscos de prostituição, uso de drogas e outros comportamentos de risco. Segundo diversos estudos, com populações de várias partes do mundo, e em diferentes culturas, um grande número de mulheres relata que já foi agredida física, psicológica ou sexualmente, pelo menos uma vez na vida.
Nesse contexto destaca-se a violência sexual, apontada por pesquisadores como uma das principais formas de agressão, que predomina sobre as outras. Embora se classifique a violência em tipos distintos, as diferentes formas de agressão nunca aparecem isoladas. As mulheres estupradas, ou as meninas submetidas ao abuso sexual, em geral são espancadas e sofrem ameaças de toda sorte. Sob o domínio do medo, elas não denunciam, não procuram ajuda, se fecham em si mesmas e sofrem caladas até que um fato como a gravidez venha revelar a situação. A violência física, no mínimo é acompanhada da violência psicológica. Essa diferenciação faz sentido apenas na discussão da abordagem, para que se possa compreender melhor a necessidade que a vítima apresenta ao buscar ajuda. Em qualquer situação, porém, é o olhar sobre o problema deve ser o mais amplo possível, para que a mulher, criança ou adolescente agredida, seja vista e acompanhada na sua integralidade.
Nas últimas décadas, por força das militantes feministas e provavelmente pela constatação das perdas sociais e econômicas, a violência contra a mulher foi incluída na agenda política dos governos e nos acordos internacionais.
A Convenção de Belém do Pará (1994), define "a violência contra a mulher constitui uma violação aos direitos humanos e às liberdades fundamentais e limita total ou parcialmente à mulher o reconhecimento, gozo e exercício de tais direitos e liberdades". (...) "violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado" (2).
"Quem de nós poderia dizer que jamais se deparou com uma situação de violência, durante toda a vida pelo fato de ser mulher? Quem nunca ouviu comentários ofensivos na rua, num ônibus ou espaço público? Ou nunca foi assediada no trabalho por alguém que se deu a liberdade de avançar sexualmente sem ter sido convidado? A violência pode ocorrer de maneira sub-reptícia, dissimulada, mas mesmo em suas formas leves ela se baseia na dominação de um gênero sobre outro" (3).
Bibliografia consultada:
(1) Schraiber, L.B., D'Oliveira, A. F.L.P. Violência contra mulheres: Interfaces com a Saúde. Interface, Comunicação,Educação, vol 3, n. 5, 1999
(2) CEPIA. Traduzindo a legislação com a perspectiva de Gênero n. 1. Instrumentos Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos. Rio de Janeiro, 1999.
(3) The Right To Live Without Violence. Woman´s Proposals And Actions. Women´s Health Colection / 1 - Latin American And Caribbean Women´S Health Network - 1996)
Rhamas

segunda-feira, 1 de março de 2010

Continuando...

Orixás : Verger e o Candomblé

"O Candomblé é para mim muito interessante por ser uma religião de exaltação à personalidade das pessoas. Onde se pode ser verdadeiramente como se é, e não o que a sociedade pretende que o cidadão seja. Para pessoas que têm algo a expressar através do inconsciente, o transe é a possibilidade do inconsciente se mostrar". No seu contato com o candomblé - como freqüentador, amigo e iniciado - Verger foi cuidadoso e paciente. Ganhou afeto, proteção, conhecimento e, para honrar a confiança que nele foi depositada, passou o resto da vida registrando lendas, liturgias e procedimentos, em suas fotos e livros, que se tornaram fonte segura de informação para adeptos, pesquisadores e curiosos.
"Só em 1948, dois anos após minha chegada à Bahia e uma longa viagem pelo Recife, Haiti e Guiana Holandesa é que comecei a dar-me conta da importância do Candomblé e do papel que desempenha, dando dignidade à maioria dos habitantes desse lugar, descendentes de africanos". Foi em 1948 também que ele esteve pela primeira vez no Ilê Axé Opô Afonjá, pouco antes de partir para a África, onde teria uma bolsa de estudos para fotografar rituais religiosos. Mãe Senhora se ofereceu para consagrar a sua cabeça a Xangô. Iniciou-se aí a longa amizade de Verger com o povo de santo.
Na África, esteve com descendentes dos antigos soberanos que originaram os mitos; conheceu os locais sagrados, assistiu e participou de rituais. Quando estava na Bahia, continuava o aprendizado: "O interessante é você conviver, fazer as mesmas coisas e participar sem intenção de entender. Participando, a coisa fica completamente diferente. Foi o que aconteceu comigo aqui. Eu convivia no terreiro do Opô Afonjá, fazia as mesmas coisas das pessoas da Casa, sem saber o porquê, nem como. Vivia em comum tomando parte das preocupações, das crenças".
Além do Afonjá, Verger freqüentou muitos outros terreiros, como a Casa Branca, as casas de Joãozinho da Goméia, Joana de Ogum e Catita, onde tinha muitos amigos e, depois de alguns anos, o Aganju, fundado pelo sacerdote e amigo Balbino Daniel de Paula, com a sua ajuda. Até o final da vida, entretanto, Verger se declarava um "francês racionalista" que não tinha "sentimentos religiosos muito fortes", ainda que talvez não fosse tão cético assim. O fato é que a profundidade do seu conhecimento somado à sua vida monástica e temperamento misterioso o tornaram um referencial para pessoas de todos os credos.

Fonte: http://www.pierreverger.org/fpv/index.php?option=com_content&task=view&id=14&Itemid=155&limit=1&limitstart=2. Acesso em 01/03/2010

Conhecendo um pouquinho de Pierre Verger, nome respeitado e conceituado entre os cultuadores de Orixás.

Candomblé com Sotaque Francês PDF Imprimir E-mail


Entrevista de Pierre Verger por Maria José Quadros publicada no jornal O Globo 16/08/1992

Às vésperas de completar 90 anos, o etnólogo francês Pierre Verger, radicado na Bahia há quase meio século, se prepara para dar mais uma importante contribuição ao estudo da cultura afro-brasileira. Com a  ajuda de uma especialista em botânica, ele prepara seu vigésimo livro, um trabalho inédito sobre as plantas medicinais usadas na costa do Benin, na África, e na Bahia, que deverá ser publicado também na Inglaterra e França.
    O livro será lançado no final do ano, coincidindo com a inauguração da sede definitiva da Fundação Pierre Verger, que abrigará todo o acervo do etnólogo,há anos disputado por seis universidades da Europa, Estados Unidos e África. São 60 mil negativos fotográficos, três mil volumes de livros e documentos, um catálogo com 3.500 plantas medicinais e mais de mil horas de gravações sobre a cultura oral iorubá. Tudo isso está amontoado na modesta casa onde ele mora há 32 anos, na ladeira Alto do Corrupio, em companhia apenas de um gato com nome de filósofo – Jean-Jacques Rousseau. Todos os parentes próximos de Verger já morreram.
    Nascido Pierre Edouard Leopold Verger, em Paris, em uma família abastada, o etnólogo desprezou o cargo de diretor na empresa gráfica do pai, quando tinha 30 anos, em troca da liberdade de sair fotografando povos e costumes pelos cinco continentes. Considerado um dos maiores fotógrafos do mundo na época, fez vários ensaios par o Museu do Homem, de Paris, deu a volta ao mundo como fotografo do estinto jornal “Paris Soir”, virou correspondente de guerra da revista americana “Life”, Segunda Guerra e foi um dos primeiros fotógrafos da conceituada agência francesa Magnum.
    Verger correu mundo sem pressa, até “descobrir” a  África, onde passou anos estudando a cultura iorubá na Nigéria e na costa de Daomé, hoje República do Benin. Sua intimidade com a cultura daqueles povos, de onde saiu a  maioria dos escravos que vieram para a Bahia, fez com que adotasse o nome africano Fatumbi, passando a se chamar Pierre Fatumbi Verger. Logo depois fez uma nova descoberta: a Bahia, de onde não mais saiu.
    Verger já faz planos para novos projetos: vai ordenar os quilômetros e quilômetros  de fita gravada com importantes registros sobre cultura oral que conseguiu em suas viagens pela África. Antes, em setembro, irá à França participar de um colóquio de antropólogos, onde falará sobre a sua convivência de dois meses no continente africano com o famoso antropólogo Roger Bastide, que o orientou em suas pesquisas. Filho de Oxaguian- Orixá jovem, que se caracteriza sobretudo pelo apego à liberdade e o espírito de justiça – Verger recebeu o título de Doutor pela Sorbonne e se tornou consultor do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, tendo cursado apenas o antigo liceu.

    O Globo: De que se trata o livro que o senhor esta escrevendo?

    Pierre Verger:  O livro é sobre o trabalho de plantas e especialmente entre os iorubás e seus descendentes aqui na Bahia. Ainda não escolhi o título. São plantas medicinais e litúrgicas, mágicas também. Algumas são encontradas no Brasil. É sobre a medicina que se usa nas aldeias do Benin e da Nigéria, de onde saíram os negros que vieram para Bahia. As pesquisas cientificas com plantas acontecem em todo mundo. Os laboratórios sempre estudam a composição das plantas, partem do que fazem as pessoas que têm conhecimento prático para chegar aos medicamentos. Os remédios sempre imitam a natureza. Já há farmacêuticos e outros especialistas interessados. O livro trará pouco mais de 400 fórmulas, descritas em quatro línguas. No total recolhi mais de duas mil combinações de plantas.

    O Globo: Como o senhor conseguiu recolher tantas fórmulas?

    Pierre Verger:  É difícil conseguir informações desse tipo quando se quer. Eu aprendi sobre o assunto porque não queria saber. Cheguei a África, onde terminei vivendo 17 anos  como fotógrafo. Acontece que para fazer boas fotos é preciso se deixar esquecer no lugar, esquecer de onde a gente veio, viver normalmente entre o povo da terra, para que tudo fique natural.  É uma atitude um pouco passiva, a mesma que tive em minhas pesquisas.

    O Globo: A passividade ajuda o pesquisador?

    Pierre Verger:  No meu caso, sim. Minha aproximação com os problemas é diferente do que os antropólogos em geral costumam fazer. Estes sempre têm uma tese, um plano de trabalho, estão procurando alguma coisa em particular. Usam sua energia  para tentar conseguir as informações de que precisam, o que faz com que as pessoas automaticamente se fechem. Eu não estava interessado em coisa alguma em especial, não vivia fazendo perguntas. Mas terminei me transformando em aluno dos babalaôs, que são os “pais do segredo”.

    O Globo: Em que consiste o segredo?

    Pierre Verger:  São as informações e o conhecimento da cultura iorubá, que só se transmite oralmente. Eu fui aceito como uma espécie de aluno, tinha não só o direito mas também o dever de aprender. Isso aconteceu na Nigéria e no Benin, inclusive numa pequena cidade chamada Kêto, de onde se originou a maioria dos terreiros de candomblé da Bahia. Quando encontrava coisas interessantes, eu anotava. Com os babalaôs, me iniciei no sistema de adivinhações dos iorubás, que se chama Ifá. É por isso que passei a me chamar Fatumbi, nome que significa “renascido pela graça do Ifá”.

    O Globo: Há quem diga que as novas gerações de negros baianos começam a  perder o contato com suas raízes africanas, que estão mais voltados para o que fazem os negros em outras partes do mundo. O senhor concorda?

    Pierre Verger:  Não há um Brasil, são muitos brasis. Reconheço que os estados brasileiros, que culturalmente são diferentes uns dos outros, começam a ficar parecidos, misturados, talvez por influência da televisão. Mas a Bahia tem um sabor particular, essa influência muito forte dos descendentes de africanos da costa do Benin. Essa terra ainda é muito diferente do resto do país. O que me atrai aqui é justamente essa mistura cultural, que faz com que na Bahia possam conviver pessoas de origens diferentes, sem problemas. Há problemas começando agora, mas são coisas que vêm de fora.

    O Globo: Que problemas são esses?

    Pierre Verger:  Problemas inter-raciais, porque a Bahia passou a ter elementos que não tinha no passado. Elementos que vêm um pouco da atitude de certos intelectuais que vivem falando em racismo. Só pelo fato de falar no assunto, ele começa a se tornar realidade, começa a se criar uma situação que não existia antes. Porque, afinal, a Bahia é o lugar do mundo onde encontrei as relações raciais mais fáceis. Aqui não existem bairros negros, aqui se chama um amigo de “meu nego”para ser gentil, negro é uma palavra carinhosa. Isso se baseia no fato dos negros, mestiços e brancos terem uma vida em comum. Não é que o racismo não exista, mas a sociedade baiana discrimina menos do que resto do mundo, o que já é um progresso. Agora, tem aquela gente que não quer parecer negro, quer ser mais clara, ter cabelo liso... Isso é uma piada. Quando cheguei a Bahia, em 1946, nem notei que aqui vivia também gente branca. Só descobri que tinha branco tempos depois, quando tive de ilustrar um livro de um professor da Universidade Federal da Bahia, sobre elites de cor da cidade, publicada pela Unesco. O que eu acho é que n Bahia há um certo prestígio em ser negro, por causa do candomblé.

    O Globo: De que forma o candomblé confere prestígio ao negros baianos?

    Pierre Verger:  O candomblé é admirado e respeitado também pelos brancos, e isso faz com que se tenha um certo orgulho de ser negro. Os negros ligados o candomblé não sofrem preconceitos raciais. Veja o caso de uma vendedora de acarajé: essas mulheres geralmente são filhas de santo, e por isso o pessoal vai lá com um certo respeito, as pessoas ligadas à seita beijam a sua mão. Cria-se uma atmosfera de apreço  pela gente de origem africana.

    O Globo: O senhor noa vê nisso algum traço de folclorização da cultura negra?

    Pierre Verger:  Não acho que seja folclore, porque a cultura negra está presente na cidade. Alguns dos maiores edifícios de Salvador têm nomes de orixás – Iemanjá, Xangô, Oxaguiam, Oxalufã. As pessoas que vivem ou trabalham nesses edifícios estão contentes com isso. Coisas desse tipo fazem com que os negros se sintam bem em sua pele. Pode haver algum tipo de racismo, mas que não se deve esquecer que existe também essa valorização da cultura chegada com os africanos.

    O Globo: O senhor é muito respeitado nos terreiros. O candomblé é a sua religião?

    Pierre Verger:  Não sou muito religioso,  por temperamento.  O que me interessa é o papel que tem o candomblé ao conferir dignidade aos descendentes dos escravos. Aqui eles chegaram a ser gente mesmo, gente respeitada por suas próprias tradições.

    O Globo: Como um francês, sem qualquer raiz racial na África, pode participar das cerimônias do candomblé?

    Pierre Verger:  Mesmo para as pessoas que não têm origem africana, o candomblé é importante, porque permite  que elas sejam elas mesmas, em vez de adotar uma forma de viver que nada tem a ver com sua natureza. Há uma coisa muito interessante no candomblé: em princípio, um orixá é um antepassado da família, que às vezes se apodera da pessoa, em então ela cai no santo , com se diz , sem fingir, numa possessão verdadeira. Quem não tem sangue africano, como eu, infelizmente não é possuído pelo orixá. Há um caso único, que noa sei explicar, de uma pessoa sem raízes africanas que pe possuída pelo santo. É uma francesa Giselle Cossard, que é mãe de santo de um terreiro muito respeitado, nos arredores do Rio. Há pessoas sem sangue africano que também caem no santo, entram em transe. Mas é um transe de expressão, e não de possessão.  O orixá é uma espécie de arquétipo do comportamento da gente. Quando se apossa de uma pessoa, ela revela o que está em seu inconsciente, passa a exprimir sua personalidade verdadeira.

    O Globo: Então o transe, no candomblé, funciona como uma terapia psicanalítica?

    Pierre Verger:  O candomblé é muito importante do ponto de vista da psicanálise, com uma grande vantagem. Na psicanálise há o psicodrama, as pessoas são levadas a representar publicamente o que está escondido em sua personalidade, mostrar seu lado mais vergonhoso. Isso é horrível. No candomblé é o  contrário, isso ocorre em clima de festa, a gente pode mostrar o que é e ser admirado, porque afinal de contas não é a pessoa que está fazendo ou dizendo aquelas coisas, é o orixá.

    O Globo: Fale sobre sua juventude. A efervescência cultural na França das décadas de 20 e 30 não o atraía?

    Pierre Verger:  Sempre tive muita curiosidade por tudo que era diferente do que vivi na minha infância, no meu país. Depois, não gosto muito de intelectuais, eles parecem dondocas. Para viver no meio deles é preciso se expressar artificialmente, procurar as palavras. Com a gente comum é muito mais natural. Eu mesmo nunca quis escrever. Só comecei porque tinha recebido uma bolsa de estudos do Instituto Francês da África Negra, e o diretor exigiu que eu escrevesse sobre minhas pesquisas. Foi aí que comecei a envenenar minha vida, porque tinha de tentar com palavras o que via. Antes, bastava registrar em fotografia.

    O Globo: Às vésperas de completar 90 anos, a idade o preocupa?

    Pierre Verger:  Não, não vejo grande diferença. É chato, porque até há pouco tempo eu conseguia me locomover melhor. Gostaria de ter mais agilidade. Às vezes esqueço o nome das pessoas, o que também é chato.


    O Globo: O seu trabalho é reconhecido internacionalmente, mas o senhor vive em pobreza quase absoluta. A Bahia o trata mal?

    Pierre Verger:  Não vejo isso, pelo contrário. Não acho que viva mal. Tenho liberdade para fazer o que quero, comida, roupa e uma cama para dormir. Querer possuir mais do que isso é estupidez. 
Última Atualização ( 05 de Agosto de 2009 )

Fonte: http://www.pierreverger.org/fpv/index.php?option=com_content&task=view&id=163&Itemid=549. Acesso em 01/03/2010

Adotada em 18 de Dezembro de 1979 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, a Convenção é frequentemente descrita como uma "international bill of rights for women". Compreendendo um preâmbulo e trinta artigos, repartidos por seis partes, obriga os Estados Signatários a adotar todas as medidas necessárias para eliminar a discriminação contra as mulheres em qualquer das suas formas e manifestações.

Por discriminação contra as mulheres entende-se "qualquer distinção, exclusão ou limitação imposta com base no sexo que tenha, como consequência ou finalidade, prejudicar ou invalidar o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das mulheres, independentemente do estado civil, com base na igualdade de homens e mulheres, dos direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, econômico, social, cultural e civil, ou em qualquer outro domínio" (artigo 1º).

Entre as obrigações dos Estados previstas para assegurar a igualdade das mulheres com os homens, inclui-se:

- a revogação das disposições penais nacionais discriminatórias das mulheres (artigo 2º, alínea g);

- a adoção de medidas com vista a eliminar o tráfico de mulheres e a exploração da prostituição das mulheres (artigo 6º);

- a garantia do direito de voto e do direito de exercer de cargos públicos ou funções públicas (artigo 7º);

- a garantia dos mesmos direitos no campo da educação (artigo 10);

- a garantia dos mesmos direitos no campo do emprego, designadamente direito ao trabalho, a oportunidades de emprego idênticas, à livre escolha da profissão e do emprego e a remuneração igual (artigo 11, I);

- a proibição do despedimento com base na gravidez ou licença por parto e a introdução de licença remunerada por parto ou benefícios sociais idênticos (artigo 11, II);

- a concessão de igualdade de tratamento perante a lei (artigo 15, I);

- a concessão, em questões civis, de capacidade legal idêntica e de oportunidades idênticas de exercer essa capacidade (artigo 15, II);

- a garantia dos mesmos direitos e responsabilidades em matéria de casamento e relações familiares (artigo 16).

Para avaliação do cumprimento dessas obrigações, foi criado o CEDAW-Comitê para a Eliminação das Discriminações contra as Mulheres (art.17).

Fonte: http://www.pgr.pt/portugues/grupo_soltas/efemerides/mulher/direito_internacional.htm#1. Acesso em 01/03/2010
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